Sérgio Lopes Sakabatō, the reversed blog!

Comunidades de programação30 Jan 2010

Sempre optei por deixar as minhas opiniões sobre as comunidades de programação onde participo guardadas para mim mesmo, nunca é fácil transmitir as nossas ideias por escrito, e a reacção mais comum de quem lê é sentir-se atacado, no entanto, neste momento encontro-me fora de qualquer actividade em comunidades de programação para que as minhas palavras possam ser consideradas mais que uma simples opinião. Talvez me tenha cansado, seja como for, este é apenas um texto pessoal sobre o que tenho visto e como tenho sentido as comunidades onde participei.

A minha participação mais notória tem sido na comunidade criada em torno do fórum Portugal-a-programar, no entanto o que escrevo não é específico dessa comunidade, é algo que tem sido notado em todas as que frequentei, se se pode usar o termo desta forma. A primeira de todas foi talvez a comunidade do Programmers Heaven, onde colaborei, apenas timidamente, respondendo às poucas perguntas que, na altura, tinha capacidade para responder. Seis anos depois encontrei o P@P, no qual me registei imediatamente e tentei ajudar um grupo de pessoas que estava a começar um pequeno sonho: ter uma comunidade de programadores em Português, feita por portugueses e para portugueses. Além destas duas, passei por JUGs, listas de discussão de Java, comunidades genéricas de programação, fóruns de desenvolvimento de jogos, enfim, uma miríade de comunidades, com mais ou menos elementos e que tentavam juntar pessoas com objectivos comuns.

Olhando para trás, ando nisto à mais de 10 anos, é muito tópico sobre os mesmos problemas, as  mesmas dúvidas, as mesmas tentativas de criar a casa pelo telhado, e ao fim de todo este tempo sinto-me afastar de tudo isto. Ainda participo ocasionalmente no P@P, respondendo a algumas perguntas quando me sinto para aí virado, ou acrescentando mais qualquer coisa à wiki da comunidade, principalmente nas secções de Java, mas dos JUGs apenas leio as participações do JUG PT, e pouco ou nada já participo, e dos outros fóruns afastei-me completamente.

Mas porque tenho razão para escrever desta forma? Afinal foi moderador do P@P durante bastante tempo, participei activamente nos seus projectos, enfim, foi um elemento da comunidade com vontade e tempo investido… talvez seja a minha natureza “do contra”, talvez porque opte sempre por procurar críticas e não louvores, de qualquer modo, sinto-me desiludido com estas comunidades, umas mais que outras naturalmente, mas desiludido do mesmo modo.

Vi projectos com características fantásticas, quer a nível técnico quer a nível lúdico, que foram deitados abaixo apenas porque eram diferentes, ou porque exigiam trabalho, e projectos sem o mínimo valor serem elevados quase a monumento da comunidade. Projectos iniciados com vários elementos irem abaixo porque esses elementos não tinham noção do trabalho envolvido e saltavam fora quando se lhes exigia mais que a palavra. Utilizadores com conhecimentos serem afastados, literalmente empurrados para fora da comunidade apenas por indicarem que um tópico estava errado, que uma participação não tinha valor técnico, que o seu autor na verdade, não sabia bem o que dizia.

E o que dizer de uma comunidade que se deixa reter dentro da sua bolha e pensar que é a melhor da área, a única com capacidade, enfim, que não dá um passo atrás para ver o que se encontra em seu redor? Será que estas comunidades se tornam tão grandes que perdem completamente a identidade? Ou é o sucesso que tão facilmente incendeia o entusiasmo e não deixa que os elementos que gerem a comunidade possam ver o estado em que esta se encontra?

Será que todas as comunidades sofrem do mesmo mal? Ou será que o factor a reter aqui é o facto de em todas elas o único elo comum sou eu? Talvez o problema não esteja nestas comunidades, talvez esteja em mim e na minha forma de participar nelas… talvez o que eu precise é de uma comunidade só para mim :-)

E o que seria uma boa comunidade senão uma que cumprisse os requisitos de:

  • Tivesse por base um grupo restrito de “gestores”;
  • Criasse os seus projectos com o único objectivo de qualidade e afastando-se sempre da quantidade ou da moda;
  • Respeitasse todos os utilizadores novos fosse firme com as participações;
  • Existisse apenas com base no espírito de servir e melhor;

Enfim, este foi apenas um texto terapêutico, para mim e não para o eventual leitor, e que não expressa mais que o estado de espírito de alguém que já não se consegue rever nas comunidades que frequenta/frequentou… talvez seja tempo de criar a minha.